Mostra em SP reúne cem registros feitos pelo francês no país, em 1934, e revela retratos "sem exotismos" de um fotógrafo em início de carreira, que alcançaria o auge na Bahia e na África
Pierre Verger/Fundação Pierre Verger |
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Conhecer o mundo tendo uma câmera fotográfica como guia e diário de bordo. Foi esse o ímpeto que levou o aprendiz de fotografia Pierre Verger (1902-1996) a sair de Paris em 1933, rumo ao Taiti, e depois aos EUA e ao Japão, em 1934.
Durante sua estada de quase um mês entre as cidades de Tóquio, Kyoto, Nara, Nikko e Oshima, produziu cerca de 950 fotografias, das quais cem serão exibidas a partir desta sexta na Caixa Cultural Sé, em São Paulo, na mostra "O Japão de Pierre Verger - Anos 30".
A viagem ao Japão é o primeiro trabalho de Verger como fotógrafo contratado. Ainda inseguro de sua competência com o ofício que havia aprendido dois anos antes, teve essa empreitada encomendada pelo jornal "France-Soir".
As imagens deste fotógrafo iniciante -que em 1946 se fixaria em Salvador, na Bahia, após passar por mais de 20 países- já deixam entrever de forma clara as opções estilísticas e temáticas do Verger que mais tarde se notabilizaria por seu poderoso inventário etnográfico das relações sócio-culturais, com relevo para a religiosidade, entre a Bahia e a África.
Munido de sua Rolleiflex, Verger busca desvendar essa cultura completamente diferente da sua investigando as pessoas do povo, os mercados, as embarcações, a paisagem. É notório, nesse início de carreira, sua capacidade de se aproximar das pessoas e conseguir retratos naturais sem que sua presença se torne invasiva. Essa é uma das marcas mais vigorosas que pontuariam sua obra na fase mais madura.
Para Alex Baradel, curador da mostra, é importante notar que, nesses primeiros passos de Verger na fotografia, seu olhar sobre uma cultura distante da sua já surge "livre de exotismos.
É claramente o olhar de um estrangeiro, mas que consegue se livrar dos clichês costumeiros dos turistas", diz. Para selecionar as cem imagens, Baradel se pautou pelo "rigor estético das composições e a capacidade das imagens de traduzir o impacto que o Japão representou ao primeiro olhar de um ocidental".
De fato, o olhar de Verger nesse primeiro momento segue mais na direção de usar a fotografia como uma ferramenta de aproximação do desconhecido que como um aparelho identificador de diferenças culturais.
Tal ponto de vista foi uma das grandes virtudes de Verger, que muito contribuiu para que sua obra, vista em perspectiva, não tivesse sua formação eurocêntrica e burguesa como prisma redutor, classificando a diversidade com a qual ele teve contato nas andanças pelo mundo.
Em 1934, o Japão vivia um momento político delicado.
Três anos depois, os japoneses invadiriam a China detonando um conflito que desembocou na Segunda Guerra Mundial.
Verger escreveu a um amigo para dizer que se sentia sempre vigiado no Japão, mas as imagens passam tranqüilidade, apesar do grande número de pessoas em situação de miséria.
Esse contraste com a imagem do Japão atual pode ser visto na mostra dos fotógrafos, também franceses, Bertrand Desprez e Bernard Descamps, que abre junto da mostra de Verger, no segundo andar da Caixa Cultural, em comemoração do centenário da imigração japonesa no Brasil.
Durante sua estada de quase um mês entre as cidades de Tóquio, Kyoto, Nara, Nikko e Oshima, produziu cerca de 950 fotografias, das quais cem serão exibidas a partir desta sexta na Caixa Cultural Sé, em São Paulo, na mostra "O Japão de Pierre Verger - Anos 30".
A viagem ao Japão é o primeiro trabalho de Verger como fotógrafo contratado. Ainda inseguro de sua competência com o ofício que havia aprendido dois anos antes, teve essa empreitada encomendada pelo jornal "France-Soir".
As imagens deste fotógrafo iniciante -que em 1946 se fixaria em Salvador, na Bahia, após passar por mais de 20 países- já deixam entrever de forma clara as opções estilísticas e temáticas do Verger que mais tarde se notabilizaria por seu poderoso inventário etnográfico das relações sócio-culturais, com relevo para a religiosidade, entre a Bahia e a África.
Munido de sua Rolleiflex, Verger busca desvendar essa cultura completamente diferente da sua investigando as pessoas do povo, os mercados, as embarcações, a paisagem. É notório, nesse início de carreira, sua capacidade de se aproximar das pessoas e conseguir retratos naturais sem que sua presença se torne invasiva. Essa é uma das marcas mais vigorosas que pontuariam sua obra na fase mais madura.
Para Alex Baradel, curador da mostra, é importante notar que, nesses primeiros passos de Verger na fotografia, seu olhar sobre uma cultura distante da sua já surge "livre de exotismos.
É claramente o olhar de um estrangeiro, mas que consegue se livrar dos clichês costumeiros dos turistas", diz. Para selecionar as cem imagens, Baradel se pautou pelo "rigor estético das composições e a capacidade das imagens de traduzir o impacto que o Japão representou ao primeiro olhar de um ocidental".
De fato, o olhar de Verger nesse primeiro momento segue mais na direção de usar a fotografia como uma ferramenta de aproximação do desconhecido que como um aparelho identificador de diferenças culturais.
Tal ponto de vista foi uma das grandes virtudes de Verger, que muito contribuiu para que sua obra, vista em perspectiva, não tivesse sua formação eurocêntrica e burguesa como prisma redutor, classificando a diversidade com a qual ele teve contato nas andanças pelo mundo.
Em 1934, o Japão vivia um momento político delicado.
Três anos depois, os japoneses invadiriam a China detonando um conflito que desembocou na Segunda Guerra Mundial.
Verger escreveu a um amigo para dizer que se sentia sempre vigiado no Japão, mas as imagens passam tranqüilidade, apesar do grande número de pessoas em situação de miséria.
Esse contraste com a imagem do Japão atual pode ser visto na mostra dos fotógrafos, também franceses, Bertrand Desprez e Bernard Descamps, que abre junto da mostra de Verger, no segundo andar da Caixa Cultural, em comemoração do centenário da imigração japonesa no Brasil.
O JAPÃO DE PIERRE VERGER - ANOS 30/O JAPÃO DE DESCAMPS E DESPREZ - ANOS 90
Quando: abertura para convidados dia 18/4, às 19h. A partir de 19/4, de ter. a dom. das 9h às 21h; até 25/5
Onde: Caixa Cultural Sé (pça. da Sé, 111, tel. 0/xx/11/3321-4400)
Quanto: entrada franca
Quando: abertura para convidados dia 18/4, às 19h. A partir de 19/4, de ter. a dom. das 9h às 21h; até 25/5
Onde: Caixa Cultural Sé (pça. da Sé, 111, tel. 0/xx/11/3321-4400)
Quanto: entrada franca
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